La Boucherie Lecoeur, Paris |
Calma, vou explicar logo, “Boucherie” nada mais é que um Açougue, mas este é especial por pertencer ao meu amigo Gérald Lecoeur. E como está situado em Paris, é um açougue do primeiro mundo, isto é, um açougue de luxo ou melhor definindo: Uma boutique de carnes.
Não era para escrever sobre ele agora, por ser este lance muito semelhante a um texto que acabei de distribuir pelos meus poucos leitores, no qual falava de outro amigo, o Laurent, sapateiro, também de Paris. Mas, minhas inúmeras fans ( mulher, cunhada, duas sobrinhas e a neta Aninha), exigiram que botasse no papel logo. Relutei também, por ter sabido que estavam duvidando das minhas histórias e aventuras, dizendo que não passavam de contos de ficção de um gabola sonhador. Foi quando minha netinha, lá de São Sebastião do Paraíso, nos confins de Minas, onde está morando, me passou um e-mail:
- Vô, agora você tem fotografias e testemunhas e pode fechar essas bocas maledicentes. Não ligue e vá em frente, ou melhor, sente no computador e mande brasa.
Falou e disse, Aninha querida, vou tentar imprimir as fotos, vou citar duas testemunhas insuspeitas, seus telefones e quem quiser que confira. Vou fechar as bocas dos maledicentes ou maldizentes, difamadores e caveiristas.
La Boucherie Lecoeur, de propriedade de Gerárd Lecoeur, fica no nº 200 da rua de Tolbiac, no 13º arrondissement de Paris, seu código de endereço postal é 75013 e seu tel. é 45.89.29.56. Para quem quiser se certificar e telefonar, vai ser atendido por Madeleine, uma bonita francesa, co-proprietária e... etc. O Gerárd é uma figura de uma simpatia formidável. No seu jaleco de um branco impecável, camisa social também branca e uma bonita gravata de seda, mais parece um medico, embora quando por cima, põe o avental, fique parecido com um legista, como eu pilheriava com ele. É um homem bonito, como podem ver pela fotografia, mais bonito e másculo que a maior parte dos artistas da Globo. Contrariando as más línguas, que gostam de denegrir os franceses, é de uma simpatia , educação e cordialidade, que nem no Brasil se faz mais.Estava sempre sorrindo e rindo a toa, talvez por ser rico. Não ha quem não simpatize de cara, com ele.
Quem nos indicou essa “boucherie” foi o Mariosinho, filho do querido e saudoso jornalista, Mario Rocha, que estava em Paris fazendo mestrado de Farmacologia e morava perto, na Casa do Brasil, ali no “Boulevard Jourdan”. Como nós estávamos morando também perto, na “Place de Italie”, lá poderíamos comprar carnes já preparadas e temperadas, com os devidos acompanhamentos, terminar no micro-ondas do ap e comer “superbes” pratos da “merveilleuse” cozinha francesa, por custo inferior a 10% dos preços dos restaurantes. E, depois de sermos apresentados por Mariosinho, ainda ganhamos bônus, representados por temperos e molhos especiais. E, acima de tudo, ficamos amigos do Gerard. Quando lá íamos para nossas modestas compras, éramos recebido com muito alegria.
- Oh, lá, lá !!! Bonjour mon ami brésilien !!! Comment allez-vous ? Un verre de Beaujolais, pour votre plaisir !!!
E a festa começava. Praticamente nos arrastava para seu escritório-cozinha-bar-sala de refeições, nos fundos da loja, onde em um sólida mesa de madeira, a partir das 3 horas da tarde, que era a hora de começarem a chegar os “compagnons”, estava servida a mais apetitosa, luxuriante, e pecaminosa “table de hors-d’oeuvres” do mundo. Está aqui a relação de algumas das iguarias ( tomei nota, para não me esquecer ) : patês, quenelles (bolinhos de peixe com molho branco ), crepinettes ( pequenas salsichas picantes ) , fiambres, cuisses de grenouilles (coxinhas de rã), escargots, jambons de Bayonne, oeufs Rossini (ovos com trufas e vinho Madeira), saucissons e o meu preferido, bouchées á la reine (formas pequenas de massa folhada recheadas com frango ou vitela e cogumelos), não faltando um grande pote de barro cheio de “rilletes de porc” (espécie de patê, feito de pedaços de carne de porco cozidos na própria gordura e servido frio). Numa mesa a parte, ficavam as inúmeras qualidade de queijos e variedades de pães, não faltando as indispensáveis “baquettes”, colocadas dentro de um bonito vaso de cristal. Os vinhos, ah !, os vinhos!, suas garrafas ficavam em cima do balcão do bar ou dentro duma vasilha de prata com gelo , havendo para todos os paladares.
Como sabe receber o nosso amigo Gerard. Se eu não soubesse que o negocio dava tanto lucro, imaginaria que ele o mantinha só para reunir os amigos e essas “happy hours” patrocinadas por ele, matariam de inveja qualquer milionário baiano. Que o digam Célia e Mariosinho Rocha, Clotilde Ribeiro e sua amiga Neinha, que, quando moravam em Paris, eram seus freqüentadores assíduos. E, unanimemente, concordamos que era a única maneira dos brasileiros, aventureiros em Paris, “tirarem a barriga da miséria”, literalmente.
Protelei um pouco, a descrição da “boutique”; antes queria que vissem a fachada, pela qual já podem ter uma idéia do interior, vejam o mármore verde com tiras de metal dourado incrustadas, as molduras de madeira, com granito preto, igualmente com frisos dourados e o discreto letreiro, LECOEUR, apenas. As portas de “blindex”, sempre fechadas, por causa do ar condicionado. O toldo discreto, em branco com listas verdes, protege do sol e da chuva. Vejam o bom gosto da bem arrumada vitrine.
Entremos, “s’il vous plaît”. Pisemos o impecável piso de mármore rosa e veremos, logo à direita, a estante com uma variedade enorme de condimentos que não vou relacionar, pois são mais de quarenta e numa prateleira mais baixa, vasos bojudos, contendo muitos dos molhos e temperos, indispensáveis na boa cozinha francesa. Alguns deles são cremosos e leves com delicados sabores de ervas, vinhos e outros aromas. Outros são fortes e picantes. Em todos os vasos, rótulos com nome, respectivos ingredientes e a receita de como melhor emprega-los. Vamos adiante e veremos o longo balcão frigorífico, nos chamando a atenção, de logo, as bundinhas de porco alinhadas ao longo da prateleira, lembrando as meninas deitadas nas areias da praia e ficamos ofuscados pela variedade de carnes de boi , vitela, porco, cordeiro, coelho, peru, ganso, galinha d’angola e outras aves, inclusive faisão.
Em outro canto, fica a “Charcuterie” com uma variedade grande de patês, presuntos, chouriços, embutidos e defumados. Junto, outros balcões com queijos diversos , nem todos, pois a França tem mais de 250 tipos, a maioria de excelente qualidades, mas alguns não tem quem agüente, nem o cheiro.
Adiante, outro balcão frigorífico ao longo da parede à direita de quem entra. Nele, pratos já preparados, exibindo as “nombreuses spécialités de l’Artisan Boucher Gerard Lecouer”, bastando um forno ou um micro-ondas para servi-los, esses eram que, quando decidíamos fazer uma extravagância, gastando até 70 francos, levávamos para fazer uma refeição especial em nosso apartamento. A parte dos vinhos é sortida, mas não aconselho, são todos muito caros, e só os provo quando Gerard me serve. De graça bebo até Don Perignon, 1947.
Sim, podem crer, a BOUCHERIE LECOUER, 200, rue de Tolbiac, Paris, que afinal não passa de um sofisticado açougue ou casa de carnes, poderia tranqüilamente, estar localizada em qualquer “shopping” do Brasil e talvez, fosse a mais bonita boutique dele.
Em resumo : Meu amigo Gerard Lecoeur tem uma grande e seleta freguesia, ganha muito e em, compensação, diverte-se mais ainda.
Chega, já são 13 horas e o cheiro da “cassoulet” que minha mulher preparou está irresistível e vou lá enfrenta-la, armado de um bom vinho Médoc, geladinho. E lembrar Paris. Ah ! Paris !
Para vocês: “Bon appetit !!!”
Set - 2001
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